A criação de bancos de madeira em formas de animais, entidades espirituais ou geométricas é uma prática de longa data que segue atual entre diversos povos originários da América do Sul, principalmente aqueles que habitam a Amazônia e seu entorno.
Cada cultura indígena produz o seu próprio tipo de banco, mas há características comuns: são sempre peças esculpidas a partir de um único tronco de árvore, sem o uso de juntas ou emendas. Sobre seu assento e base, recebem grafismos feitos com entalhes, pirografias ou pinturas de urucum (para a cor vermelha), carvão (preto), argila (branco) e outros pigmentos naturais.
Mais do que meras formas geométricas ou adornos desprovidos de significado, os grafismos carregam um vasto conhecimento ancestral, são grafias de histórias, entidades e símbolos que refletem suas cosmovisões.
É recorrente o uso de cascas de caramujo coladas com cera de abelha para representar os olhos dos animais esculpidos. No Xingu, após o polimento e a pintura, os bancos recebem acabamento com óleo de pequi.
Dentro das comunidades, os bancos são usados tanto em situações corriqueiras quanto em contextos sagrados. Em rodas de conversa, determinados assentos podem ser demarcadores sociais, indicando a importância de uma liderança ou de um cacique, ou informar sobre a relevância do tema que será discutido.
Há rituais em que um banco é posto no centro de uma roda, outros em que vários bancos compridos são dispostos de forma circular. Os pajés possuem bancos pequenos, facilmente transportáveis, e os utilizam durante sua transcendência ao mundo espiritual enquanto curam uma pessoa doente.
Apesar das raízes indígenas serem parte fundamental da formação das culturas brasileiras, desde a linguagem aos costumes, passando pela estética, raras vezes elas recebem o seu devido reconhecimento, tendo sido historicamente invisibilizadas pelo processo colonizador formador do país. Inseridos nas culturas não indígenas como peças de arte e de design, os bancos indígenas vêm recebendo crescente reconhecimento, dando visibilidade ao protagonismo indígena na criação e expressão de sua própria visão de mundo e abrindo espaço para o reconhecimento de sua participação na história do design nacional. Neste contexto, os bancos indígenas e a fauna nativa neles representada se colocam como um convite ao reflorestamento do imaginário brasileiro.
Texto por Marina Frúgoli